A linda gordinha da Maternidade

by Tião Vitor

Faz uma semana que escuto reclamações sobre a estátua instalada na frente da Maternidade Bárbara Heliodora. Disseram que ela era obesa demais, que lembrava a ogro Fiona, enamorada de Shrek do cinema, que era feia, parideira por estar com um suposto filho no ombro e outro na barriga e que era um despautério do governo do Estado instalar tamanha monstruosidade em frente ao sagrado local onde as mulheres acreanas vão para parir seus rebentos.

Outros questionamentos dizem que uma mulher como aquela, com peso acima do “ideal”, não seria um bom exemplo para as acreanas, que ela é candidata às doenças perigosas para uma boa gestação, como a hipertensão, eclampsia, entre outras.

A maior parte das críticas, entretanto, vem das mulheres. Vi pelo menos uma cinco revoltadas – indignadas eu diria.

Eu, por outro lado, me apaixonei por aquela linda mulher. Acho que ela é fantástica, alegre, bela e sensual como toda bela gordinha sabe ser. Ela é viva e leva consigo outra alegre vida ao ombro e mais uma em seu ventre. Ela representa uma das tantas belas mães do nosso Acre e – por que não dizer – da Amazônia.

É claro, porém, que ela não representa estética considerada ideal pelos padrões de beleza do mundo moderno. Não lembra Gisele Bündchen, Luana Piovani ou Juliana Paes, por exemplo. Mas é, sem tirar nem pôr, igual à Maria, Francisca, Mônica, Cleide ou Raimunda lá da Foz do Breu, ou à ribeirinha do Juruá ou do Tarauacá, ou mesmo àquelas da periferia de Rio Branco ou às que transitam faceiras pelo terminal urbano. Ser gordo não é feio, não desabona a conduta ou o caráter e não é garantia de ausência de saúde.

Aquela gordinha é arte, e arte não se julga desse jeito. Ela é a concretização da visão da artista, que tem a liberdade de criar sem se prender a padrões equivocados de beleza.

Posso criticar, porém, o valor pago pela obra – comenta-se que passou de R$ 100 mil. Se isso for verdade, diria que há outras prioridades para investimento de tanto dinheiro, como o aparelhamento das unidades de saúde, escolas e delegacias, ou mesmo a compra de vacinas e medicamentos para mulheres e crianças do Estado. Não diria, contudo, que a obra não vale o que foi pago. Se eu tivesse dinheiro sobrando, não me furtaria de pagar bem mais para ter uma bela gordinha como aquela em minha casa.

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